Guerra na Ucrânia: 5 possíveis desfechos para o conflito

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Em meio à guerra, pode ser difícil enxergar os caminhos possíveis.

As notícias do campo de batalha, os ruídos nas negociações diplomáticas, a emoção e a tragédia dos enlutados e deslocados; tudo isso pode ser devastador.

Uma vista da praça do lado de fora da prefeitura danificada de Kharkiv, nordeste da Ucrânia, em 1º de março de 2022, destruída como resultado do bombardeio de tropas russas

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Praça ao lado de fora da prefeitura de Kharkiv foi destruída pelo bombardeio das tropas russas

Isso seria extremamente perigoso e arriscaria uma guerra com a Otan. De acordo com o Artigo 5º da carta da aliança militar, um ataque a um membro é um ataque a todos.

Mas Putin pode correr esse risco se sentir que essa é a única maneira de salvar sua liderança. Se ele estiver, hipoteticamente, enfrentando uma derrota militar na Ucrânia, ele poderia ficar tentado a escalar ainda mais o conflito na Europa.

Com a guerra na Ucrânia, descobrimos que o líder russo está disposto a quebrar antigas normas internacionais. Essa mesma lógica pode ser aplicada ao uso de armas nucleares, que só foram usadas num conflito pelos EUA, na Segunda Guerra Mundial, contra o Japão.

E na primeira semana de guerra Putin colocou suas forças nucleares no nível mais alto de alerta. em reação às declarações e as duras sanções econômicas impostas por potências globais contra a Rússia.

A maioria dos analistas internacionais duvida que a elevação do alerta nuclear signifique que seu uso seja provável ou iminente. Mas foi um lembrete de que a doutrina russa permite o possível uso de armas nucleares táticas no campo de batalha.

4. Uma solução diplomática

Ainda pode haver, apesar de tudo, uma possível solução diplomática?

“As armas estão falando agora, mas o caminho do diálogo deve permanecer sempre aberto”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

Diplomatas dizem que canais estão sendo conectados com Moscou. E, surpreendentemente, autoridades russas e ucranianas já se reuniram para conversar na fronteira com a Belarus.

Eles podem não ter feito muito progresso. Mas, ao concordar com as negociações, Putin parece ao menos ter aceitado a possibilidade de um cessar-fogo negociado.

A questão-chave é se a Otan, as potências europeias e os EUA podem oferecer o que os diplomatas chamam de “rampa de saída”, um termo americano para uma saída de uma grande rodovia.

Diplomatas dizem ser importante que o líder russo saiba o que seria necessário para que as sanções contra a Rússia (que têm levado a uma grave crise econômica) fossem suspensas. Ou seja, quais seriam os termos para que um acordo seja pelo menos possível.

 

Prédio do serviço de segurança em Kharkiv após bombardeio

EPA
Kharkiv é uma das várias cidades onde os bombardeios russos continuam

Considere este cenário. A guerra vai mal para a Rússia. As sanções começam a perturbar ainda mais Moscou. A oposição cresce à medida que os caixões de militares russos voltam para casa.

Putin se pergunta se ele mordeu um pedaço maior do que poderia mastigar. Ele julga que continuar a guerra pode ser uma ameaça maior à sua liderança do que a humilhação de terminá-la.

Nesse cenário, a China (principal aliado da Rússia) intervém, pressionando Moscou a se comprometer com a negociação de cessar-fogo, alertando que não comprará petróleo e gás russos a menos que diminua a escalada do conflito.

Assim, Putin começa a procurar uma saída. Enquanto isso, as autoridades ucranianas veem a destruição contínua de seu país e concluem que o compromisso político pode ser melhor do que uma perda tão devastadora de vidas.

Então, os diplomatas se engajam, e um acordo é feito. A questão pode passar principalmente pelo aspecto territorial.

A Ucrânia, digamos, pode aceitar a soberania russa sobre a Crimeia e partes do Donbas, no leste do país, onde duas repúblicas separatistas (Donetsk e Luhansk) foram reconhecidas pela Rússia. Ou até porções maiores do território ucraniano, inclusive com uma faixa territorial que conecte por terra entre duas áreas rebeldes e a Crimeia.

Por sua vez, Putin poderia aceitar a independência da Ucrânia e seu direito de aprofundar os laços com a União Europeia e até mesmo com a Otan.

Isso pode não parecer provável. Mas não está além dos domínios da plausibilidade que tal cenário possa emergir dos destroços de um conflito sangrento.

5. Putin deposto

E o próprio Vladimir Putin? Quando lançou sua invasão, declarou: “Estamos prontos para qualquer resultado”. Mas e se esse resultado fosse ele perder o poder?

Pode parecer impensável. No entanto, o mundo mudou nos últimos dias, e essas coisas agora são aventadas atualmente.

Lawrence Freedman, professor emérito de Estudos de Guerra no Kings College, no Reino Unido, escreveu esta semana: “Agora é tão provável que haja uma mudança de regime em Moscou quanto em Kiev”.

Policiais detêm um homem durante um protesto contra a invasão da Ucrânia pela Rússia no centro de Moscou em 2 de março de 2022

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Um homem é detido por policiais durante um protesto em Moscou contra a invasão da Ucrânia pela Rússia

Mas talvez Putin se aprofunde uma guerra desastrosa. Milhares de soldados russos morram. As sanções econômicas mordam.

Putin perde apoio popular. Talvez haja a ameaça da revolução popular. Ele usa as forças de segurança interna da Rússia para suprimir essa oposição.

Mas isso se torna amargo, e membros suficientes da elite militar, política e econômica da Rússia podem acabar se voltando contra ele.

Nesse cenário, os EUA e a Europa deixam claro que, se Putin for substituído por um líder mais moderado, a Rússia verá o levantamento de algumas sanções e a restauração das relações diplomáticas normais.

Poderia haver um golpe sangrento no palácio, e Putin estaria fora do poder.

Novamente, isso pode não parecer provável agora. Mas pode não ser implausível se as pessoas que se beneficiaram de Putin não acreditarem mais que ele pode defender seus interesses.

Para concluir

Esses cenários não são mutuamente excludentes — alguns aspectos de cada um podem se combinar para produzir resultados diferentes.

Mas, independentemente do desenrolar desse conflito, o mundo mudou. Não voltará ao status quo de antes.

A relação da Rússia com o mundo exterior será diferente.

As atitudes europeias em relação à segurança serão transformadas, a exemplo da ampliação militar histórica anunciada pela Alemanha.

E a ordem internacional baseada em normas e regras pode redescobrir para que ela servia inicialmente.

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