Sobrecarga, reajuste zero e acordos não cumpridos: educadores afirmam que SED ‘parou no tempo’

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O segundo dia de paralisação de professores em MS é marcado por um grande ato de protesto no Parque dos Poderes, em frente à Governadoria. A PM controla a entrada de veículos, mas manifestantes seguem chegando normalmente ao local. Por volta das 10h30, a multidão deslocou-se da Governadoria até o prédio da SED (Secretaria de Estado de Educação), que fica a poucos metros.

Foto: Henrique Arakaki | Midiamax

Os gritos de protestos revelam um cenário desolador para profissionais da educação em MS, de professores a administrativos, e que se resume à sobrecarga de profissionais, reajuste zero e acordos não cumpridos. O grupo ergue cartazes e dispara palavras de ordem acusando a gestão de Reinal Azambuja (PSDB) de não honrar compromissos e de se esquivar do diálogo.

“Sofremos uma grande desvalorização nesse atual governo, mas é algo que já vinha de antes. Desvalorização, falta de reajuste, sobrecarga de trabalho… Estamos exaustos. Houve concursos para a educação, mas não houve convocação. E não há diálogo. Esse governo está extremamente autoritário”, declara o professor Jorge Ibere Gomes Antunes, que é presidente do Sinted (Sindicato de Trabalhadores da Educação) de Rio Verde, a cerca de 194 km de Campo Grande.

Junto a Antunes, outros 24 trabalhadores vieram à Capital. “Mas há paralisação total em Rio Verde. Quem ficou, está buscando dialogar com a população, explicar as nossas reivindicações e mostrar pelo que estamos passando”, completa.

Para a maioria dos manifestantes, é consenso que o setor de administrativos é o mais aviltado em direitos. Isso porque, além de ter o menor salário na folha de pagamento da SED, também sofre com sobrecarga e falta de estrutura na carreira.

Uma greve que durou dez dias, em junho deste ano, acabou sem reajuste salarial para a categoria, apenas manutenção de um abono de R$ 200 e jornada de seis horas diárias. Na ocasião, também foi firmado acordo entre a Fetems e a SED, que havia determinado prazo até 31 de julho haveria uma reestruturação da carreira. Porém, isso não ocorreu.

Foto: Henrique Arakaki | Midiamax

O viés autoritário e sem diálogo da gestão também desperta temor por medidas antidemocráticas nas escolas. “A gente não desacredita que as eleições diretas de diretores de escolas não sejam mais realizadas. É o que ainda temos de democracia naqueles espaços, mas o governo indica que isso pode acabar. Existe um desmonte da educação nesse Estado, é algo pavoroso”, aponta Wilds Obando, do Sintede (Sindicato dos Servidores Administrativos da Educação) de Campo Grande.

A professora Leonice Bacarin, que é tesoureira do Sintede de Sidrolândia, destacou que a desigualdade entre efetivos e contratados também causa transtornos à categoria. “São profissionais às vezes com a mesma qualificação, mas com salários diferentes. Por que isso?”, questiona.

Escolas cívico-militares

Proposta do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a adoção de escolas cívico-militares em MS também é um dos alvos dos protestos e motivo de preocupação entre os presentes.

Na última semana, a SED anunciou que duas escolas de Campo Grande, em áreas consideradas “de vulnerabilidade”, serão adaptadas para receber o programa federal. São elas: Escola Estadual Alberto Elpídio Ferreira Dias – Prof. Tito, no Jardim Anache; e Escola Estadual Marçal de Souza, no Jardim Los Angeles.

Foto: Henrique Arakaki | Midiamax

Para os educadores, a adoção de uma disciplina militar pode trazer prejuízos à formação dos jovens, tanto pela violação de competências de gestão escolar, que são da pedagogia e da educação em geral, como pode promover a falsa sensação de sucesso, já que a evasão desses institutos costumam ser grandes.

“Vivemos uma escola na qual o aluno pode se expressar e temos o direito de trabalhar de acordo com a nossa realidade. A militarização cria uma bolha, é irreal. Não temos nem ideia de como isso vai acontecer. Será que eles vão conhecer a nossa realidade de cidade do interior?”, destaca Bacarin.

A professora Josefa Silva também se coloca contra a implantação do modelo. Segundo ela, escolas militares promovem a falsa sensação de sucesso. “As escolas que já existem são sucesso porque ali só há os filhos da classe média. Quem tem baixo desenvolvimento simplesmente é transferido para outra escola. É por isso que dá certo. Não é empurrando disciplina de cima pra baixo que se resolve a educação. A única solução é investimento nos profissionais e na estrutura”, aponta.

 

Fonte: Midiamax

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